Agradecemos o Centro Elzenhof por ter acolhido a FAPB, Federação das Associações Portuguesas e mais particularmente a Associação José Afonso, que faz parte da FAPB, e ter assim dado a oportunidade de partilhar com os numerosos presentes a alegria que nos dá a evocação da Revolução dos Cravos e fazer descobrir um pouco da cultura portuguesa.
Estávamos reunidos para comemorar os 50 anos da Revolução dos Cravos, golpe militar, pacífico, tornado revolução popular, que pôs fim à ditadura em Portugal e à guerra colonial que Portugal travava em África. Nos poucos painéis pendurados nas paredes desta sala, foi apresentada uma breve evocação do que foi essa revolução e do contexto em que ocorreu.
Apesar das duras condições de vida, da falta de desenvolvimento económico, do nível de educação da população mantido baixo pelo regime para melhor controlar o povo, apesar da repressão e da censura, a oposição democrática manteve-se sempre em Portugal. Muitos artistas, poetas e cantores expressaram em voz alta o que muitos sentiam.
O concerto, apresentado pelos jovens artistas Ashley Marques, que é portuguesa, e Julien Gillain, que é belga, permitiu descobrir ou redescobrir algumas das canções que exprimiam essa oposição. Muitas eram proibidas em Portugal, onde só podiam circular clandestinamente. Em contrapartida, os exilados podiam ouvi-las aqui em Bruxelas, onde os cantores de intervenção, por vezes eles próprios exilados, vinham cantar o que não podiam cantar em Portugal.
A primeira canção deste concerto é do cantor José Mário Branco. Ela fala precisamente da sua tomada de consciência do poder que tinha como autor. Uma canção pode ser uma arma, diz ele. Eu não sabia, mas agora eu sei. Trata-se de escolher bem o alvo e ter boa pontaria.
• A Cantiga é uma arma de José Mário Branco
A repressão dos opositores era forte. Eles arriscavam a prisão, muitas vezes viviam na clandestinidade ou eram forçados ao exílio. Alguns foram assassinados. Esta canção de José Afonso fala do assassinato do pintor José Dias Coelho, em 1961. O nome dela é A Morte saiu à rua.
• A Morte saiu à rua de José Afonso
A canção que seguiu é de José Mário Branco, chama-se Inquietação, esta forma de expectativa que todos podem sentir, o sentimento de que tudo pode acontecer, a qualquer momento. O tema é atemporal, mas assume uma conotação particular num contexto de repressão.
• Inquietação de José Mário Branco
A seguinte música foi muito mais direta na denúncia dos erros da sociedade fascista de então. O texto é do poeta Manuel Fonseca, musicado e cantado por Adriano Correia de Oliveira em 1972. Em resumo, o texto dirige-se ao Tejo, rio que corre em Lisboa e pede-lhe que lave a cidade de todas as injustiças, os abusos de poder que são o quotidiano das pessoas, e que leve tudo para o mar.
• Tejo que levas as águas de Adriano Correia de Oliveira
A revolução do 25 de Abril de 1974 suscitou muitas esperanças na Europa e no mundo. Duas canções ilustram esta realidade. Ambos são do brasileiro Chico Buarque, que as escreveu enquanto seu país vivia sob um regime militar muito duro. Ele diz, em ambas as canções, que saber que um cravo vermelho floresceu em Portugal alimenta sua esperança de mudança em seu próprio país. Na Europa, em 1974, a Grécia também vivia sob o regime fascista dos coronéis. E Georges Moustaki, cantor grego exilado na França, adaptou uma das canções de Chico para expressar sua esperança de mudança para a Grécia, mudança que realmente aconteceu alguns meses depois
• Tanto Mar de Chico Buarque
• Fado Tropical de Chico Buarque/ Georges Moustaki
A revolução de abril aconteceu, Portugal passou a ser um estado democrático. Mas nem tudo está resolvido. Autores de hoje também lutam com canções, contra as injustiças. É o caso da cantora A garota Não, que luta contra as desigualdades económicas na sociedade.
• 422 Milhões de A Garota Não
O concerto de comemoração do 25 de Abril não podia terminar sem cantar a canção de José Afonso, Grândola, vila morena. Fala-se de fraternidade, de solidariedade, de poder nas mãos do povo. Esta canção era proibida em Portugal e foi a sua difusão, evidentemente surpreendente, que foi o sinal dado aos soldados das casernas em diferentes locais do país, para sair dos seus quartéis e desencadear o golpe, com o resultado que conhecemos e que foi celebrado neste evento.
• Grândola, Vila Morena de José Afonso
Este evento faz parte do projeto Explorar o passado com os olhos no futuro, projeto da FAPB / AJA Bruxelas com o apoio financeiro da DGACCP.